segunda-feira, 28 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

El derecho al delírio


O que acham se delirarmos um pouquinho? 
O que acham se fixarmos nossos olhos mais alem da infâmia, para imaginarmos outro mundo possível?

- O ar das ruas limpo de todo o veneno que não venha dos medos e das paixões humanas;

- Os carros sendo esmagados pelos cães;

- As pessoas não mais dirigidas pelos carros, nem programadas pelo computador, nem compradas por supermercados, nem também assistidas pela TV;

- A TV deixará de ser o membro mais importante da família e será tratada como um ferro de passar ou máquina de lavar roupa;

- Será incorporado aos códigos penais o crime de estupidez para aqueles que cometem: viver para ter ou para ganhar ao invés de viver para viver simplesmente, assim como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca;

- Os historiadores não mais acreditarão que os países gostam de ser invadidos;

- Os políticos que os pobres adoram comer promessas;

- Ninguém viverá para trabalhar, todos trabalharão para viver;

- Os economistas não chamarão mais o nível de vida de nível de nível de consumo e nem chamarão de qualidade de vida a quantidade de coisas acumuladas;

- Os cozinheiros não mais acreditarão que as lagostas amam ser fervidas vivas;

- A morte e o dinheiro perderão seus poderes mágicos e nem por falecimento e nem por fortuna um canalha se tornará um virtuoso cavalheiro;

- Ninguém levará a sério alguém que não seja capaz de tirar sarro de si mesmo;

- O mundo não estará em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza, e a indústria militar não terá escolha a não ser declarar falência;

- Em nenhum país ira prender os rapazes que se recusarem a cumprir o serviço militar, mas aqueles que querem servir-lo;

- A comida não será uma mercadoria nem a comunicação um negócio, porque a comida e a comunicação são direito humano;

- Ninguém morrerá de fome;

- As crianças de rua não serão mais tratadas como lixo, porque não haverá mais crianças de rua, as crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá mais crianças ricas;

- A educação não será privilégio daqueles que podem paga-la;

- A polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la;

- A justiça e liberdade, irmãs siamesas, condenadas a viver separadas, serão novamente juntas de volta, bem grudadinhas, costas com costas;

- Na Argentina, as “Loucas da Plaza de Mayo” serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos de amnésia obrigatória;

- A Santa Madre Igreja corrigirá algumas erratas das escrituras de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo, a igreja também realizará outro mandamento que Deus havia esquecido: “Amaras a natureza da qual fazes parte”;

- Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;

- Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de esperar muito, muitos e se perderam de tanto procurar;

- Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os tenham vontade de beleza e vontade de justiça, tenham nascido quando tenham e tenham vivido quando e onde vivido, sem se importarem nem um pouquinho com as fronteiras do mapa e ou do tempo;

- Seremos imperfeitos e a perfeição continuará sendo um privilégio chato dos Deuses;

- Neste mundo trapalhão, seremos capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite como se fosse a última.



Galeano

terça-feira, 15 de novembro de 2011

o briho eterno

Feliz é a inocente vestal
Esquecendo o mundo e sendo por ele esquecida.
Brilho eterno de uma mente sem lembranças
Toda prece é ouvida, toda graça se alcança


Alexander Pope

domingo, 13 de novembro de 2011

Tudo que eu queria era saber por que...


Você brincou comigo, bagunçou a minha vida,
Você não vale nada, mas eu gosto de você.



só o que me interessa

Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

quando você me apareceu

Tudo o que eu dizia
Parecia uma alegoria de você
Mas descobri que você
Não nasceu pra ser
O meu traje de gala,
Nem meu prêt à porter
Não dá prum esporte fino,
Um modelito soierie
Fora isso,
Pode escolher a categoria
Luxo ou originalidade
Na realidade é teu
O prêmio máximo
No quesito
Fantasia




alice ruiz

avesso

pode parecer promessa
mas eu sinto que você é a pessoa
mais parecida comigo que eu conheço
só que do lado do avesso
pode ser que seja engano, bobagem ou ilusão
de ter você na minha
mas acho que com você eu me esqueço
e em seguida eu aconteço
por isso deixo aqui meu endereço
se você me procurar eu apareço
se você me encontrar
te reconheço...


alice ruiz

gota a gota


Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre


Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre


Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre


Alice Ruiz 



(um pouco de Gabriela Holz nessa música! Papos de camarim, amoreba e afins <3)

domingo, 6 de novembro de 2011

Amor e revolução



Sem pensar em dogmas e modelos convencionais de relacionamento, há um grupo cada vez maior de pessoas interessadas em aceitar um modelo de amor mais amplo. Amigos, amantes, namorados... são palavras que não vão definir uma turma que, simplesmente, se ama. Passamos um fim de semana com Bela, Renata, Marcela, Anne, Alfredo, Fran e Luiz para mostrar que cara tem o Amor Revolução – uma causa um modo de vida, que, para eles, não tem mais volta
 

 


Poderia ser mais uma balada na vida de Luiz. Fugaz, etílica... normal. Mas naquela noite, há cinco meses, uma cena nada previsível mesmerizou o rapaz mexicano radicado em São Paulo. Um grupo de pessoas fundia-se em uma massa compacta, fluida, vagarosa. Difícil contar quantos na turma, de tantas pernas e braços entrelaçados. Olhos fechados, corpos deslizando uns sobre os outros – moças, rapazes... pessoas. Era uma farra hedonista, uma baguncinha, um convite à sacanagem? Luiz sentiu que não. “Mexeu demais comigo. Tinha uma pureza de carinho, uma energia muito linda”, ele conta e confessa, “eu queria muito entrar ali, mas não sabia se dava.” Só precisou chegar perto. Bela, uma das damas encaixadas no grupo, puxou Luiz para o miolo. E ele nunca mais saiu.
“Eu sempre me considerei um especialista em abraço”, elabora deitado, enquanto recebe cafuné de duas garotas, “mas no Brasil as pessoas são muito travadas. E eu estava entrando nessa. A melhor coisa foi conhecer essas pessoas. Hoje me assumo como sou. Foda-se o que os outros vão pensar.” Soa estranho, inclusive, escutar uma autoafirmação tão decidida. Afinal Luiz não é gay, não é bi, não está em busca de putaria nem se preocupa com o rótulo (ou a fama) de hétero. E é exatamente isso que ele bate no peito para assumir: ele gosta de carinho.
Ele e, no fundo, todo mundo. Mas é raro achar quem “saia do armário” como essa turma. Estamos em sete, bem acomodados em uma quitinete do edifício Copan, centro de São Paulo. É a casa de Alfredo Toné, ou Alfreedom, como assina por aí, e Isabela Alzira, a Bela, sua... namorada? Não importa, no fundo. Antes de qualquer alforria sexual, é dos conceitos e das amarras linguísticas que eles buscam independência. E foi em torno do “casal” que os demais naquela sala gravitaram para se conhecer. Ou melhor, em torno das performances que os dois promovem em festas e nos cursos de contato e improvisação oferecidos por eles na Casa Jaya – espaço ecocultural na Vila Madalena.
Por caminhos diferentes, Bela, Alfreedom, Marcela, Luiz, Renata, Anne e Fran – a turma fotografada aqui – acabaram dentro daquela turba sensorial, apropriadamente batizada por eles de amoreba – a ameba do amor. “Para muita gente é difícil entender que isso não é um surubão”, Alfredo diz, mas a frase poderia sair da boca de qualquer um ali. “Parece uma orgia. Mas nós temos um elo coletivo, de amor. E isso é o mais importante. Claro que no meio de uma amoreba vão se formando situações mais sexuais, mais tesão aqui ou ali. Mas não tem afobação. É tudo muito natural.”
A amoreba “estendida”, por assim dizer, é muito maior do que os sete citados aqui. É uma rede de amigos, pessoas que se conectaram em festivais, festas, aulas, viagens. “Uns 300!”, chuta Bela, sem o menor critério estatístico. Pessoas, presentes em maior ou menor grau, que compartilharam não apenas uma dança coletiva coladinha, mas experiências de amor, nudez e sexo que as libertaram como nunca. Ciúmes, padrões estéticos e a própria ideia de amor romântico, exclusivo, são inevitavelmente colocados em xeque. E a medida final para que alguém assuma seu papel nesse difuso e bem conectado corpo coletivo é simples: a felicidade que tal entrega, tal desapego, gera. Marcela, estudante de psicologia, descobriu sua turma há poucos meses. Mas já tem articulado um pensamento claro, bem simples, sobre o que o grupo representa em sua vida.
“A primeira vez que fiquei nua para entrar em uma cachoeira, eu hesitava. Reparava no corpo dos outros, pensava no meu corpo. Mas depois eu percebi que isso era tudo meu. Que os outros não estavam me enxergando assim”, e conclui, sucinta: “Quando você está sem roupa, você se pergunta quem é de verdade”. Alfreedom completa: “Em geral as pessoas só ficam nuas para tomar banho ou transar. E tem gente que acha que achar nudez normal é coisa de maluco...”
 “Em geral as pessoas só ficam nuas para tomar banho ou transar. E tem gente que acha que achar nudez normal é coisa de maluco...”
Mas a mera nudez é só um passo nesse imapeado caminho do amor fagocitoso. Desafios, e recompensas, maiores estão em aceitar que dá para amar muitas pessoas, transar sem segredos e mentiras. “A gente vive preso em uma ideia romântica, possessiva de amor. Eu descobri que o amor não pode ser idealizado. Mas pode ser um ideal. É bem diferente”, Marcela define, do alto de seus já sábios 20 anos. Um ideal se oculta também entre as infinitas possibilidades e sutilezas de sensações que existem entre um cafuné e uma trepada. E também, é claro, em soltar-se das restritas definições de hétero, homo, bissexualidade. De novo, Alfreedom: “Eu posso ter tesão por um cara, se eu achar ele apaixonante? Claro. Mas eu sou bissexual se eu gosto muito mais de mulher? E por que preciso responder essa pergunta? O amor é uma entidade muito maior do que tudo isso”.
Ainda assim, fica claro, mesmo para uma breve testemunha, que paira sobre todos uma sensualidade, uma libido, essencialmente feminina. São elas que dão o ritmo, que tocam a todos e todas com mais tranquilidade, que não poupam selinhos e carícias. Que tiram o típico afobamento, o preto no branco, da sexualidade do macho. E afagam o presente repórter enquanto escuta os relatos e os diversos motivos pelos quais elas, e eles, aceitaram o convite da Trip para um fim de semana em um sítio perto de São Paulo.
“Eu nunca fiz fotos, mas eu acho que isso que nós temos é algo importante de comunicar. Não pode ser segredo”, conta Renata. Ela, como todos, reconhece uma triste, alienante dureza na vida “convencional” da cidade. Um reinado falido do ego, que encapsula e isola pessoas e transforma sua obstinada luta pela naturalidade em algo bizarro. “Em São Paulo o primeiro ato de rebeldia é carregar cores. Quando eu carrego um girassol na rua, as pessoas me olham como se eu fosse o Falcão!” E girassóis são comuns na vida da moça. Massagista de profissão, e jardineira terrorista como causa, quer gastar seu tempo enfiando mudas sem pedir autorização pela metrópole. É dela também uma simples definição do tipo de amor que permeia a tal “família”, como todos, vez ou outra, chamam a si mesmos: “Aqui todo mundo é mãe e todo mundo é filhote”.
Filhotes, ou mães, vez ou outra Alfreedom e Bela assumem a palavra como líderes da matilha. São os mais presentes na Casa Jaya, onde acontecem os cursos de contato e improvisação. E buscam, artistas, atores que são, razões e implicações metafísicas, políticas, para o amor revolução – o movimento sem dogmas que está em silenciosa expansão. Um caminho sem volta, acreditam, “um ajuste dos tempos”, na boa conclusão de Bela sobre o que está por dentro da amoreba. Um atraso cultural. Uma solução para um paradigma falido de amor, casamento e monogamia. Um desejo de criação coletiva, de transformação social e espiritual, que se arrasta há gerações e que ganhou uma estética mais clara e exuberante com o movimento hippie. Mas que hoje, em um mundo ainda mais complexo e dinâmico, não cabe mais na datada alcunha. É essa falta de cercas conceituais que deixa tudo mais difícil na hora buscar uma síntese.
Anne, jornalista, muito atenta, menos falante, pede a palavra: “Para mim não precisa ficar separando, analisando tanto as coisas. Se eu quiser fazer amor, eu faço. Se eu quiser trepar, eu trepo. O motivo que me fez fazer as fotos, e estar aqui, falando com você, é simples. Todo mundo fica pelado. Todo mundo faz sexo. Todo mundo gosta. Eu tô cansada de hipocrisia”, desbafa com um sorriso. “É minha luta contra o preconceito.” Alfredo ri como um sátiro. Embalado pelo vinho que flui, vagaroso e sempre, ele vaticina: “Isso não é sobre a gente! É sobre a paz mundial”. Paz mundial? “Claro. Eu te garanto... se você dorme em uma amoreba vai querer abraçar até o padeiro de manhã. ”

fonte: Rrvista Trip

é.

Olha só moreno do cabelo enroladinho 
Vê se olha com carinho pro nosso amor, 
Eu sei que é complicado amar tão devagarzinho 
E eu também tenho tanto medo, 
Eu sei que o tempo anda difícil e a vida tropeçando, 
Mas se a gente vai juntinho, 
vai bem.

fim.

Show do Chico Buarque - contagem regressiva


Não sei por que
Somente agora você vem
Vem para embaralhar os meus dias
E ainda tem
Em saraus ao luar
Meu coração
Que você sem pensar
Ora brinca de inflar
Ora esmaga




#1 MÊS E 6 DIAS

y no entiendo muy bien por qué


Yo te quiero con limón y sal,
yo te quiero tal y como estás.
 
 

O Doente Imaginário

Estreamos!
Muita merda!

Fica aqui o convite a todos que puderem (e quiserem) assistir nosso espetáculo! Estaremos em cartaz todos os sábados de novembro, às 20hs, na sala de teatro Antonin Artaud (na Univille) - Joinville e ano que vem estaremos com mais uma maratona de apresentações!

O Doente Imaginário foi a última obra escrita por Molière, em 1673. Considerada uma de suas obras primas, a peça tem como personagem principal um hipocondríaco: Argan, carente, rico e ávaro burguês. Em seu segundo casamento, com uma mulher mais nova e interesseira, Argan vivia sobre a cama, com a constante visita de ...médicos. Sua empregada, a debochada Toninha, e sua filha, a romântica Angélica, completam a família. Angélica, filha de Argan, apaixona-se pelo romântico Cleanto. O pai, no entanto, quer que ela se case com um médico, pois desta forma teria assegurado seu tratamento de saúde. Na peça O doente Imaginário, Molière satiriza a precária ciência do seu tempo, a medicina. Faz uma crítica acirrada à relação médico-paciente, digna das relações marcadas pela frieza e pelo descaso.
Inspirado na Commedia dell'Arte — gênero surgido na Itália em 1545 — Molière colocava o público frente à manifestações do espírito humano que atravessam os séculos: a cobiça, a charlatanice, a arrogância, o desejo de ascenção social a qualquer preço. Burgueses em escalada para a riqueza, nobres decadentes, donzelas casadoiras, varões enamorados, esposas incompreendidas, maridos humilhados, beatos hipócritas e médicos sem consciência — não havia quem não fosse denunciado pela pena sarcástica do comediante. Fazendo rir, o dramaturgo fazia pensar. E suas palavras tinham o poder de uma arma. Um dos motivos que faz de Molière um dos nomes mais consagrados da dramaturgia moderna é o fato de que suas obras vão além do seu tempo e apresentam-se, ainda hoje, como retratos de muitas questões sociais.