Por mais livre que eu imagine ser, sou uma eterna escrava de mim,
escrava das minhas frustrações, obrigações, dramas, ilusões.
Eu posso largar a faculdade, o trabalho, a casa... mas eu não consigo
me largar. É difícil se despedir da gente, mesmo que eu queira muito mudar de mim, eu não consigo.
É uma briga feia, daquelas que até o vizinho sai na janela pra assistir.
Na sala, ou na China
no quarto, ou no Marrocos,
eu sempre vou estar comigo,
é triste.
Não gosto de mim.
Queria ser uma viciada em tele-novela, em programas bobos de domingo, em músicas fúteis, recheadas de vazio. Pelos menos quem gosta disso parece muito feliz.
Queria não saber. Não saber de nada. Me livrar de Kafka, de Chico Buarque,
Eduardo Galeano, de todas as edições especiais.
De Hitchcock, Bergman, Kubrick, Godard, Fellini, Tarantino, Lars von Trier...
Me lilvrar de tudo que provoca a alma, que instiga, que perturba, que desassossega.
de toda essa cor, 'Almodovariana'
de toda essa Frida Kahlo que me habita
de todo surrealismo.
eu podia me dedicar ao bordado, academia, leitura de revistas de fofoca, revistas de ensinam a perder peso comendo, jogos e aplicativos inúteis do facebook.
por que diabos eu escolhi me dedicar ao drama? Doutor?
Sigo então assim, sendo uma eterna escrava de mim.