Laranja, amarelo, vermelho e rosa, muito rosa, de vários matizes. Mais escuros, mais claros, mas inconfundíveis na sua graça, leveza e sinal de feminilidade e doçura. Essas são as cores que se destacam em Minha Vida em Cor-de-Rosa (Ma vie en Rose, 1997) O filme dirigido por Alain Berliner conta brevemente a história de Ludovic, um menino de sete anos que tem certeza de ter nascido no corpo errado. Ele sabe que gosta de brinquedos diferentes, roupas diferentes, e brincadeiras diferentes. Ludo age, pensa, sente e sofre como um menina. O conflito entre o que Ludo deseja e o que seus pais acham melhor para ele resplandece durante todo o filme. Logo no começo percebe-se a tônica do filme: o carinho a compreensão entre pais e filhos numa sociedade que não aceita o que não é padronizado, controlado e modelado. Ludo brinca e se diverte com a mãe e avó numa troca de carícias e afeto que chega a ser melosa, mas que nos traz lembranças de uma infância em que carinho não era tabu nem desculpa. A fotografia do filme prima por cores quentes, como quente é a relação de amor e ódio que a mãe tece com o filho “bom em disfarces”, como cita o pai na festa de recepção do bairro à nova família padrão.

“Pois, meu caro Sr. Sérgio, o amigo há de ter a bondade de ir ao cabeleireiro deitar fora estes cachinhos...”
A frase do Ateneu, de Raul Pompéia, resume a cena que mais toca no filme: Ludovic tem seus cabelos cortados, dissipando-se assim qualquer intenção dele de ser menina, ou melhor, de ser ele mesmo. Junto com suas mechas vão seus sonhos, suas vivências, mas um novo tempo começa.
Ludo era homo(bi)(trans)sexual? não se pode definir, até porque esse não parece ser o mote principal do filme. As crianças tem relações muito diversas em relação aos companheiros de brincadeiras, e em certas fases da infância, a prioridade é o próprio sexo. Isso não pode ser encarado como homossexualidade, mas como um processo necessário à compreensão do seu papel como ser humano. O que marca no filme é a necessidade de priorizar o diálogo com a infância, não apenas ouví-las, mas elevar a nossos sentimentos na ponta dos pés, para não machucá-las.
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