terça-feira, 6 de setembro de 2011

Infância e poesia


"Começarei por dizer, sobre os dias e anos de minha infância, que meu único personagem inesquecível foi a chuva. A grande chuva austral que cai como uma catarata do Pólo, desde o céu do Cabo de Hornos até a fronteira. Nesta fronteira, o FarWest de minha pátria, nasci para a vida, para a terra, para a poesia e para a chuva.  Por muito que tenha andado, acho que se perdeu essa arte de chover que se exercia como um poder terrível e sutil em minha Araucanía natal. Chovia meses inteiros, 
anos inteiros. 
A chuva caía em fios como compridas agulhas de vidro que separtiam nos tetos, ou chegavam em ondas transparentes contra as janelas, e cada casa era uma nave que dificilmente chegava ao porto naquele oceano de inverno. Esta chuva fria do sul da América não tem as rajadas impulsivas da chuva quente que cai como um látego e passa deixando o céu azul. Pelo contrário, a chuva austral tem paciência e continua sem fim, caindo do céu cinzento..."

Pablo Neruda - Confesso que vivi

Nenhum comentário:

Postar um comentário