domingo, 28 de agosto de 2011

par


Eu Terra e você Marte, eu desço e você salta, eu farol, você sinal, eu doce, você de sal.
Que par!
Você diz "tu", eu "você"
Você diz: "nu!", eu "por que?"
Você Zona Sul, ferver, e eu pensando se eu vou ser alguém.

Eu vergonha na cara, você na Guanabara e fim
Quando você sorriu, me repartiu em antes e depois...

Hoje eu me rendo..



alegria

Quem nunca sentiu uma alegria à toa, daquelas que vem sem hora marcada, sem plano, sem festa?
Alegria boa é assim: ela vem meio que rasgando a boca, deixando um sorriso de não sei o que na cara da gente...
S
e alegria tivesse nome, seria surpresa.
Se fosse uma casa, seria imensa.
Se fosse um doce, que doce seria a tal da alegria?
Doce gelado, confeitado, colorido...
E se fosse uma música?
Seria de flauta? De viola?
Acho que de tudo...
Alegria tem som de orquestra.

Alegria à toa tem cor quente. Cor de sol que se põe bem tarde.
Alegria que se preza, tem cheiro de chuva, de infância...
E é claro que se alegria fosse gente, seria uma criança...
E se fosse bicho, aposto que seria um beija-flor...
Se eu pudesse vestir a tal da alegria, ela seria um vestido de linho, branco, bordado no peito, bem soltinho.
Se fosse um caminho, seria de terra, no meio do nada, sem cerca e sem construção...
Alegria deve ser isso...
Qualquer coisa bonita, que nos tira do tédio.

Essa coisa gostosa, misteriosa, bem vinda, que em dois segundos deixa tudo em paz.
Alegria de verdade é aquela que vive aqui dentro...
Que adormece, às vezes, mas que nunca deve morrer antes da gente.
Lena Gino
 
 
garimpado do blog  reinodoscogumelos!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

cantiga de acordar

Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés
Era como um trem
Que anda sem passar
Era um tempo sem
Lugar
Mas
Foi um sonho bom
De sonhar porque
Me sonhava com
Você
E então seu canto veio me acordar
Era uma ilusão
No interior
De uma outra ilusão
Maior
Mas
Você foi pro sol
Noite me envolveu
Num silêncio igual
Ao seu
E então seu canto veio me acordar
Tudo é uma ilusão
Os que estão aqui
Esses não estão
Em si
Do universo, o além
Faunos ou mortais
Vão restar mais nem
Sinais

Tudo o que se vê
É o sonho de algum
Pobre sonhador
Todas as estrelas
Todas as misérias
Todos os desejos
E a canção do meu amor
Tudo o que se viu tudo o que se foi

Última ilusão
Amanhece já
Vai-se abrir o chão
Quiçá
A ilusão se esvai
É uma cena só
E a cortina cai
Sem dó
Vai cessar o som
A sessão já foi
Despertar é bom
Mas dói

Pedras vão rolar
Choram serviçais
Vão se espatifar
Vitrais
Tomba o refletor
Ardem camarins
Cai no bastidor
A atriz
Descarrila o trem
O pilar cedeu
Vai morrer meu bem
E eu

Num jardim fugaz
De espirais sem fim
Eu corria atrás
De mim
O homem se distrai
Dorme em boa fé
Sua sombra sai
A pé

Mas
Foi uma ilusão
Uma insensatez
Há que pôr o chão
Nos pés




chico buarque

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

acostumar

 
Eu vim mas trouxe o sol
E a tempestade lá de longe
Dava pra sentir você passando devagar

Pareceria tarde
Mas você foi me chamar
Morena da cidade
Eu posso até me acostumar

Posso até me acostumar
E deixar você fugir
Posso até me acostumar
Da gente se divertir

Parece brincadeira
Mas eu sei que a gente faz
Um monte de besteira
Por saber que é bom demais





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

por mim...



por mim, eu dormia até 12:43
pintaria um quadro, uma parede e a fumaça
cantava em todas as cores
dançava em todos os sons
namoraria em todos os ritmos

por mim, eu saía de casa para comprar café,
e voltaria daqui 49 anos.
por mim, eu dava a volta ao mundo de meia
colecionaria linhas, pontos, curvas
fósforos, faces, fósseis
sinos, sonhos, sinas
claves de sol, sorrisos e sonrisal

por mim, eu te amaria para sempre
por três semanas
e eu te  esqueceria por três semanas
para sempre

por mim, eu voaria num navio pirata
velejaria num 14BIS
pilotaria caminhões de areia
dirigia uma nave espacial
rumo ao norte


por mim, eu ficaria de pijama o dia todo
trocava de canal, de vestido e de cores
iria embora para Irlanda, Paris e Marte
Chile, Minas Gerais e Terra do Nunca
Buenos Aires, Itália e para sua casa

sem sair do meu quarto






domingo, 14 de agosto de 2011

lição de casa

Quero aprender a andar na luz do dia.
Quero aprender a gostar de calor
Enquanto esse verão ainda existe,

Antes do frio e do cobertor.

Quero aprender a perder o meu rumo,
Chupar o sumo do que eu for sentir,
Tragar o mundo como eu trago o fumo,
Perder o prumo e me deixar cair

Quero aprender a dizer o teu nome
Como ninguém nunca ousou dizer,
A ser você, a matar minha fome
No teu sorriso que me faz morrer.

Quero aprender a não dizer mais nada
Dizendo tudo o que puder haver,
Falando pouco, em poucas palavras
Contar pro mundo que tudo é você

Quero aprender a me esquecer da vida,
Ter na cabeça só raios de sol
Como a minha querida
E sem mais sem mais, sem mais
Sem nada só você, amor.

Quero rodar enquanto o mundo roda,
Fazendo pó na estrada com você.
Ouvindo moda enquanto você joga
Em mim a culpa por querer viver.

Quero cantar como num balbucio
Porém gritando se eu quiser gritar,
Por opção, como quem ama o Rio
Mas tem São Paulo como seu lugar

E desse jeito aprender o que é vida,
O que é preguiça de se aborrecer,
Olhar o mundo como quem me ama
Que disse que me ama até morrer.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

vinte


dezesseis
dezessete
dezoito
dezenove

vinte

o tempo todo, o tempo passa. Lembro quando eu brincava com as minhas amigas, meu sonho era ter 18 anos, e os 18 anos pareciam tão distantes, e que nunca chegariam,
mas chegaram. 
e já passaram.


e tantas coisas aconteceram
sair de casa
sair da cidade
sair da saudade

tantos livros
tantas músicas
tantas paixonites
drama
ilusão
sono
fome
sol, céu, sol
chão, chá,  show


Hoje eu não quero tirar o pijama, hoje eu quero que faça sol à noite
pra ficar lembrando de todas as coisas que fizeram cintilar
a alma

20 anos recolhidos

"chegou a hora de amar desesperadamente
apaixonadamente
descontroladamente
chegou a hora de mudar o estilo
...de mudar o vestido
chegou atrasada como um trem atrasado
mas que chega"



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Graveola e o Lixo Polifônico


Graveola e o lixo polifônico é uma oficina de experimentação, uma caixa de possibilidades poético-sonoras. São improvisadores capengas, falsários poliformes: tudo é referência na colagem musical do grupo. Das aproximações insólitas, o choque. Reagem os nomes: estética do plágio, pós-tropicalismo, culinária sonora, barroco-beat. Para além dos inúmeros rótulos auto-intitulados, mais importa a fertilidade plástica das imagens da lixofonia, o infindável e redobrável slogan que lhes constitui a lírica. Dos sotaques refinados ao kitsch, o lixo polifônico sequestra a legibilidade vomitada do pop e incorpora tudo ou qualquer coisa como ferramenta sonora, mistura o fino e o grosso a ponto de torná-los indistinguíveis. “Eis o liquidificador, o totem”


Ou...

Graveola e o lixo polifônico é um bom exemplo da mistura refinada que constitui a música brasileira. Irreverentes e atrevidos, múltiplos e desajeitados, seu trabalho é uma oficina de experimentação, uma caixa de possibilidades poético-sonoras. São improvisadores capengas, falsários poliformes: tudo é referência na colagem musical onde descontrole e acaso vêm à tona e gritam por espaço. É a estética do plágio, o humor levado a sério. Reciclar o lixo, misturar o fino e o grosso a ponto de torná-los indistinguíveis.

Do sotaque refinado do samba e da MPB ao amaldiçoado kitsch do axé e do sertanejo, o lixo polifônico sequestra a legibilidade vomitada do pop e incorpora tudo ou qualquer coisa como ferramenta sonora. Do lirismo ao escracho, os sentidos multiplicados, ou a total falta de sentido. Pianolas e apitos de brinquedo, utensílios domésticos: a idéia é deglutir e incorporar a tudo e a todos sem distinções. Implosão de rótulos, aproximações insólitas, absorções irresponsáveis: é a fertilidade do lixo “em que se plantando, tudo dá”.


Trilha sonora do mês :) que por sinal é do meu aniversário. 

 minha graça, não desfaça
seja tudo, tudo e nada
pense, invente, o que quiser será
mundo cão
mundos são
papéis desencadernados
sonho que veio virar poesia



amanheceu e a manhã será como ontem, ante o ontem, outros dias iguais
e se o longe existir eu sou maior do que a distância pode ser nesse lugar
mais vivo que um azul de amanhecer
eu quis ver
você chegar e me trazer o sol
pois de que vale o sol sem ter lugar?
e o meu lugar é o sol que você traz
eu quis ver
o sol chegar e me trazer você
você chegar e ser o que eu nem sei
dizer em dois o que eu não sou num só



antes o meu mundo era menor
depois de ensolarado cheguei a pensar num desvio de tom
(tantos caminhos possíveis depois que o sol já se foi)



escutem meus caros, escutem!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

You really got a hold on me

eu gosto das pessoas que fazem eu querer que o ônibus atrase
que não armam o guarda-chuva quando chove
que não precisam dormir para sonhar
nem de asas pra voar

eu não gosto de você, mas eu te amo

chato isso



  

You really got a hold on me


... 

And I guess that I just don't know


I wish that I was born a thousand years ago
I wish that I'd sailed the darkened seas
On a great big clipper ship
Going from this land here to that
On a sailor's suit and cap