quarta-feira, 11 de abril de 2012

Cotidiano nº 2

Há dias que eu não sei o que me passa
Eu abro o meu Neruda e apago o sol
Misturo poesia com cachaça
E acabo discutindo futebol

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Acordo de manhã, pão sem manteiga
E muito, muito sangue no jornal
Aí a criançada toda chega
E eu chego a achar Herodes natural

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Depois faço a loteca com a patroa
Quem sabe nosso dia vai chegar
E rio porque rico ri à toa
Também não custa nada imaginar

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Aos sábados em casa tomo um porre
E sonho soluções fenomenais

Mas quando o sono vem e a noite morre
O dia conta histórias sempre iguais

Mas não tem nada, não
Tenho o meu violão

Às vezes quero crer mas não consigo
É tudo uma total insensatez
Aí pergunto a Deus: escute, amigo
Se foi pra desfazer, por que é que fez?


Vinícius de Moraes


 

3 comentários:

  1. Hj, tive duas boas novidades: um poema de vinicius que não conhecia (eu não me conhecia)e uma dupla muito criativa (conferi depois)que ainda não havia visto (ainda não me havia visto).Valeu por dividir-se; assim me sinto mais inteiro.

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  2. http://www.youtube.com/watch?v=hc_VHjreHsQ&feature=player_embedded

    a música é linda demais demais!

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  3. Acabei de ver, e de aprender (é muito linda demais!).

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